A Base da Nuvem é uma pista de lançamento de voo livre montada no ponto mais alto da região de Botucatu. O visual da cadeia de montanhas, conhecida como Cuesta, impressiona quem tem coragem de encarar a subida para chegar até lá. No último domingo (7), duas mil pessoas fizeram isso para fechar em grande estilo o Festival Brasil Ride.
Foram 800 participantes na Trail Run, evento com duas categorias de corrida de montanha pelas trilhas da Cuesta. Já o passeio ciclístico levou 700 pessoas da Catedral de Botucatu até o local, em um percurso de pouco mais de cinco quilômetros. Além disso, cerca de 500 pessoas, entre acompanhantes e organização, participaram da festa.
“A intenção de fechar o festival aqui em cima é promover o encontro de duas comunidades: do pessoal da bicicleta com os corredores. É bom para a Cidade, que promove um local lindo, com uma vista deslumbrante, e para quem está participando, que tem a chance de conhecer um cartão-postal da região”, explicou Mario Roma, organizador do evento, uma realização da Prefeitura de Botucatu em parceria com o Ministério do Esporte e apoio da Prefeitura de Pardinho.
Com mais de 4.200 participantes, o Festival Brasil Ride é o maior encontro de bikes do País. Em quatro dias contou com sete eventos disputadíssimos. A prova do Circuito Mundial Amador da UCI abriu a programação na quinta-feira (4). Depois vieram os desafios do mountain bike do Warm Up Brasil Ride, em duas categorias (uma delas disputada em três dias, com quase 200 km de trilhas). A Trail Run também teve duas categorias, além do Brasil Ride Kids, que reuniu crianças de 3 a 12 anos, e o passeio ciclístico, aberto a todos.
“Esse não é um evento só para os ciclistas profissionais. Tem também atividades para toda a população de Botucatu, como o passeio ciclístico, a corrida das crianças, a Trail Run. Isso faz com que todos os segmentos da Cidade estejam envolvidos”, elogiou Antônio Carlos Pereira, secretário de Esportes, Lazer e Turismo de Botucatu, que acompanhou todos os eventos desde quinta-feira e ainda participou dos 6 km da Trail Run. “Por ter 70 anos, acredito que até fiz bonito na prova”, resumiu ele, um pouco suado.
Um dos que participaram de todo o calendário foi Roberto Marino Davila. Ele disputou a prova de estrada na quinta-feira e as categorias Sport do Warm Up e da Trail Run, totalizando mais de 100 km percorridos no feriado de Corpus Christi. “Não é sempre que um evento desse porte é realizado na região, então você tem de aproveitar. Eu até poderia encarar os 200 km de mountain bike, mas estou me recuperando da dengue. Acho que foi um grande feriado”, afirma.
Com tanta gente correndo nas trilhas “no meio do mato”, acidentes eram a grande preocupação da organização. Ninguém, porém, sofreu ferimentos sérios, motivo de orgulho para quem faz o Festival Brasil Ride. “Tivemos um evento de segurança máxima. Não tivemos um acidente, desde o Mundial de ciclismo de quinta, passando pelo evento de mountain bike de três dias, até a corrida em trilha e o passeio ciclístico. Isso mostra a eficiência da Cidade e do nosso trabalho”, analisou Roma.
Trail Run
Grande atração do último dia de competição, a Trail Run foi dominada por um dos grandes nomes do país nas corridas de montanha: Giovanna Martins. Paulista de 32 anos, ela é a líder do circuito nacional da Confederação Brasileira de Atletismo e atual campeã da Copa Brasil de corrida de montanha – de quebra, ainda é a atual campeã da Maratona da Disney, disputada em Orlando. Ela venceu os 16,6 km das trilhas de Botucatu em 1h21min30s, quase dez minutos à frente da segunda colocada, Graziele Oyan (Solma Mais Vida), com 1h30min25s.
“O circuito estava maravilhoso, do jeito que os loucos do atletismo gostam. Eu imaginava que seria bom, mas nem tanto… Quando a gente vem para a montanha, espera ter dificuldade. E foi isso que encontrei. Atravessei rio, passei por trilha, andei por cima de pedra. Encontrei até vacas”, brincou a vencedora, dona de uma assessoria esportiva em Salto, no interior de SP.
“Eu corro em montanhas desde 2011, quando comecei a treinar para a maratona. Pensei em usar essas provas como uma preparação com um nível de dificuldade maior, mas acabei me apaixonando pela montanha. É sempre um desafio. Nas corridas de rua, você sempre está pensando no seu ritmo. Na montanha, o desafio é a própria montanha. Ela exige respeito”, completou.
No masculino, quem venceu foi o maranhense Elionay Correia (Live Run/Move), corredor de meio fundo que usa as corridas em montanha como parte de seu programa de treinamentos. “Nesse ano estou focado em me profissionalizar, me dedicar a corridas de rua. E as corridas em trilhas são muito boas para te dar uma bagagem. A vitória aqui veio depois de uma subida no final, no km 14. A organização está de parabéns. A prova estava muito bem sinalizada, com pontos de hidratação nos pontos certos, o tipo de prova que a gente gosta”, ressaltou o corredor que completou os 16,6 km em 1h11min26s, mais de um minuto à frente do segundo colocado Ricardo de Godoy Oliveira (Show Tenis).
Na categoria 6 km, Francisco Denivaldo Inácio (AZ Running) foi o vencedor, com 20min10. Dulcineia Cristina de Oliveira (Manduri Running) completou em primeiro lugar em 26min08. Os vencedores na elite e nas faixas etárias receberam tênis da Pearl Izumi, patrocinadora a prova.
Passeio ciclístico em família
Se os corredores da Trail Run foram, em sua maioria, de carro para a Base da Nuvem, pista de decolagem da Cuesta de Botucatu e ponto mais alto da região, cerca de 700 pessoas foram até lá pedalando. O Passeio Ciclístico Brasil Ride foi um sucesso inesperado pela organização, graças ao sol que marcou a manhã de domingo. “Tínhamos pensado em 100 pessoas. Depois, aumentamos para 400. No final, mais de 700 pessoas apareceram”, comemorou Mario Roma.
O público era variado. A maioria disputou um dos outros eventos do Festival Brasil Ride. Era o caso do “Papai Noel Ciclista”, Benedito Soler, de 65 anos. Com sua tradicional barba branca, ele competiu no Warm Up na categoria Sport, completando os 70 km em quatro horas.
“Há 25 anos, eu jogava bola com os meus amigos duas vezes por semana e a perna começou a pesar. Resolvi pedalar. E nunca mais parei”, lembrou. “Por causa da barba branca, eu fiquei conhecido como Papai Noel Ciclista. E aproveito isso para fazer uma ação social no fim do ano. Faço parcerias com lojas e o que arrecadamos, vira presente para crianças pobres. Todo mundo precisa de uma boa ação para ser feliz. Essa é a minha”, completa.
As famílias também estavam em peso. Leonardo Capela, que levou os três filhos, Felipe, Matheus e Lucas, para a Corrida Kids, aproveitou para participar do passeio ciclístico em família. “Eles estão sempre pedalando. É uma oportunidade para juntar todo mundo e fazer um programa legal”, conta.
Também de Botucatu, Eliel de Almeida Nunes, de 33 anos, não só participou do passeio, como saiu dele com um presente: ele ganhou uma bicicleta Trek, oferecida pela marca patrocinadora do evento. “Esse ano só fiz o passeio. Mas no ano que vem participo de alguma etapa”, prometeu.
Festival cresce em 2016
A dimensão do Festival Brasil Ride já o torna um dos principais eventos de Botucatu. Mas no ano que vem, ele promete ser ainda maior. Além dos sete eventos diferentes, uma feira esportiva deve ser a grande novidade.
“Nós apostamos fortes aqui e Botucatu correspondeu. Acho que existe espaço para crescer. Eu venho da Europa, em que existem eventos só de mountain bike que reúnem mais de quatro mil pessoas. Ano que vem, já teremos uma feira de esportes e o objetivo é crescer ainda mais com os eventos que já são um sucesso”, avisou o português Mario Roma, animado com o sucesso da terceira edição.
A cidade de Botucatu voltará a ser parceira do evento. “Já estamos planejando a edição de 2016 e o Ministério do Esporte vai novamente ser nosso parceiro. Só tenho a agradecer por isso. Botucatu não foi escolhido por acaso entre 6 mil municípios do Brasil”, comemorou o secretário Antônio Carlos Pereira.
Mas não é só Botucatu que deve lucrar com o evento. Em 2015, a rede hoteleira da Cidade já ficou muito próxima da lotação máxima. Com mais gente participando em 2016, toda a região deverá ser beneficiada. “Temos Avaré, Barra Bonita e toda uma região para atender esse público. Podemos e vamos crescer”, garantiu Roma.
Warm Up
O Festival Brasil Ride devolveu a coroa de Rei da Cuesta ao seu primeiro dono. No último sábado (6), após pedalar por três dias e percorrer 195 km pelas trilhas da bela cadeia de montanhas da região de Botucatu, Hugo Prado Filho (Cannondale OCE) conquistou o título do Warm Up do Festival Brasil Ride pela segunda vez. O primeiro foi em 2013. No feminino, a campeã foi inédita: a paulista Viviane Favery (Specialized Factory Team).
“Minha primeira vitória foi no primeiro ano, em uma etapa final de cinco horas de chuva sem parar”, recorda Hugo, que fechou o evento em 2015 em 7h58min27s. “Nesse ano, cheguei bem focado para voltar a ser campeão. Sacrifiquei muitas coisas na minha rotina e, mesmo sem muito tempo, consegui fazer uma boa preparação nos últimos 40 dias”, contou o atleta, que além de treinar precisa se dividir entre as tarefas de manager de sua equipe, Cannondale OCE, além de outros dois negócios: uma assessoria esportiva, com 300 atletas e seis técnicos, e uma loja especializada em produtos de bicicleta, ambas em Belo Horizonte.
O título foi conquistado muito mais por estratégia do que por força bruta. Hugo ficou sempre entre os primeiros colocados, mas em nenhum momento se importou com o primeiro lugar da etapa: foi o segundo na sexta e no sábado, o suficiente para ter o menor tempo geral. “O Hallyson (Ferreira, da Focus XC Team Brasil) venceu as duas últimas etapas, mas era carta fora do baralho depois de perder 20 minutos no primeiro dia. Por isso, não fazia sentido nenhum tentar vencer a etapa por ego. Fui muito mais no regulamento, pois sabia que a vitória poderia chegar”, completou.
O vice-campeão foi João Paulo Firmino Ferreira (Scott/Pedal Pró), com o tempo acumulado de 8h04min57s. “Estou muito satisfeito com esse segundo lugar. É o meu principal resultado do ano, depois de um início de temporada ruim. Tive problemas de saúde leves que acabaram prejudicando o período de base de treinamentos, em todo o primeiro semestre. Foi difícil encontrar o ritmo, mas esse resultado mostra que estou no caminho certo”.
Já Hallyson Ferreira voltou a lamentar os problemas que teve na primeira etapa. Neste sábado, ele venceu pelo segundo dia seguido, mas os 20 minutos que perdeu no prólogo o tiraram da disputa pelo título. Mesmo assim, ele terminou em quarto lugar, com 8h17min32s – atrás, também, de Leandro Donizete (Trek/Shimano), com 8h09min59s. “Pelas duas etapas que eu fiz, ontem e hoje, se não tivesse tido a dificuldade com a bike, brigaria pelo título. Mas problemas acontecem. Mérito para quem suportou tudo. Todos estão de parabéns, porque a prova foi muito dura”.
Viviane absoluta
No feminino, a história foi bem diferente. Viviane Favery dominou a competição de ponta a ponta, sem dar chance para as rivais. Fechou os seus 195 km em 9h50min01s, confirmando importância em sua vida dos eventos Brasil Ride.
“Em uma prova tão longa quanto essa (a etapa deste sábado teve 107 km), rola muita reflexão. Um dos meus pensamentos foi sobre como esse evento é um divisor de águas. Minha vida tomou um rumo diferente depois dele. Me aproximei mais dos atletas da elite e percebi que eles são tão gente quanto a gente”, explicou Viviane, que divide seu tempo entre o esporte e o trabalho como executiva de marketing na Caçula de Pneus.
O título de 2015 premia uma mudança de status da atleta em um ano. Após o terceiro lugar de 2014, ela mudou o modo como pensava sua carreira nas trilhas. “Eu assumi que gosto de competir e quero ir bem. Quero levar isso a sério. E percebi que tenho potencial para ir bem”. Parte desse processo envolveu um trabalho diferente, com direito a uma técnica especializada em MTB, Adriana Nascimento, e um fisioterapeuta especialista em performance do esporte, Carlos Roberto Mó.
Mineiro vence na categoria Sport
Com 20 anos de experiência no ciclismo, o mineiro de Divinópolis Ronaldo Júnior (MTB 24 horas) foi o vencedor da cateogoria Sport do Warm Up, com o tempo de 2h22min04s. “Foi uma prova sensacional. Quero parabenizar os responsáveis pela excelente prova, em um local belíssimo e uma organização perfeita”, disse o ciclista.
No feminino, a vencedora, pelo segundo ano seguido, foi Ana Paula Elias (MTB Trip), com 2h42min04s. “Estou muito feliz por esse bicampeonato. Eu tentei fazer uma largada forte, para me encaixar no pelotão da frente. Quando entrou a estrada de terra, percebi que era a primeira. Tentei manter o ritmo forte, mas as subidinhas dificultavam isso. Mesmo assim, consegui manter esse primeiro lugar”.
A categoria Sport é um desafio menos intenso do que os três dias de sacrifícios da categoria Pró. Com uma só etapa, de 71 km, é ideal para atletas menos experientes e para quem estava na cidade só para acompanhar outros ciclistas. Foi assim que Verônica Cheliga, analista de materiais em uma empresa de cosméticos da Grande São Paulo, estreou em competições de mountain bike.
Ela veio passar o feriado de Corpus Christi em Botucatu ao lado do marido, Toni Cavalheiro, que competiu nos três dias de prova. Como ela já o acompanhava em alguns treinos, resolveu arriscar. “Nunca participei de prova nenhuma, será a primeira vez. Espero que aguente chegar até o final. Nos treinos, pelo menos, aguentei 70 km”, falou, antes da prova.
Outro destaque da Sport foi a participação de Luisa Silveira, de dez anos. Natural de Botucatu, ela treina nas trilhas da Cuesta desde criança, ao lado dos pais, e é considerada uma atleta de futuro. Apesar da idade, a mais jovem competidora da prova conseguiu completar os 71 km do percurso dentro do limite de tempo.
Brasil Ride Kids reúne até triciclos
Além das competições dos adultos, as crianças também tiveram seu dia de atleta em Botucatu. A prova Kids foi disputada na manhã do sábado, reunindo quase 100 crianças de três a 12 anos. Até um triciclo entrou na corrida, “pilotado” por Lucas Capela, de três anos.
“Ele é muito rápido. Dá muito trabalho correr atrás dele quando está na motoca. E ele faz de tudo aí em cima. Dá cavalo de pau, empina. Tanto que já deu uma desgastada nos pneus. Daqui a pouco, vou ter de comprar um equipamento novo”, contou o pai, Leonardo, que tinha mais dois filhos inscritos: Felipe, de 7 anos, e Matheus, de 6. Os dois de bicicleta. “Eles pedalam sempre. Mas quem soube do evento fui eu, pelo Facebook. Gostamos bastante”.
Além de locais, como os irmãos Capela, a prova infantil reuniu também gente que veio acompanhar quem participava de outros eventos do festival. Era o caso de Luís Henrique Kudo, de 10 anos, de Marília. “Estou com meu tio, mas vim para participar da prova. Eu ando de bicicleta desde os oito anos e, no ano passado, comecei a competir. Quero ser atleta profissional. É um sonho. Espero realizá-lo”, explicou.
Seu tio, Sérgio Kenki Nagawa, é dono de uma loja de bikes em Marília há 18 anos. Desde 2013, ele participa do Festival Brasil Ride, sempre na categoria Sport. “Foi essa prova que me fez começar a competir com mais intensidade. Neste ano ainda estou na Sport, mas acho que no ano que vem, já terei bagagem suficiente para encarar a prova de três dias”.
Logo após a prova todos foram para o pórtico de chegada para participar do sorteio de duas bikes Trek. Massimo Vigliazzi, de 8 anos, e Carolina Santos, de 12, foram os felizardos.
Infraestrutura agrada
Um dos diferenciais do evento, realizado pela Prefeitura de Botucatu e Ministério dos Esportes, com apoio da Prefeitura de Pardinho, foi a excelente infraestrutura montada pela Roma Sports Mkt. Na praça da Catedral foram instaladas duas grandes tendas para o público, com lounge distribuindo água, café, frutas, pipocas e algodão doce para o público e uma área para as crianças com monitores para desenho e pintura, além de um espaço com “pula-pula” “chute a gol” e piscina de bolinhas. Para os atletas, existia o serviço de apoio neutro da Shimano, o Bike Wash e lubrificação da MUC-OFF, um centro para massagem e fisioterapia e uma organização impecável dentro e fora das trilhas.
Fonte e Fotos: ZDL Comunicação